Começamos a namorar na escola. Ambos com nossas espinhas e ilusões de adolescente. Alguns dias depois do primeiro beijo ela faz o ultimato:
- Meus pais querem conhecer você.
Já o sabia inevitável, mas tinha que acontecer logo ali na primeira semana?, pensei.
Combinamos para uns dias depois, tinha que me preparar.
- Ok, na sexta, antes de irmos para o cinema passo na tua casa. Visita rápida, por favor. Supliquei.
Cheguei lá, suando um pouco. Apertei a campainha, mão trêmula. A mãe abriu a porta. Entrei com passos tímidos.
- Ela está no quarto e já vem. Você quer tomar algo?
- Água gelada por favor.
- Um minutinho, fique à vontade.
- Onde é o banheiro? Preciso lavar as mãos.
- Se for só para lavar as mãos pode usar o lavabo ali no corredor.
Na verdade, o nervosismo estava causando alguns efeitos colaterais indesejados, dor-de-barriga, aguda. Obviamente não expus os reais motivos para a busca do banheiro e toquei para o lavabo.
Fecho a porta e me deparo com a amarga realidade, sobre o vaso um bilhete: interditado. A dor-de-barriga não deu ouvidos. Comecei a suar frio. Tinha que improvisar. Olhei para a pia de louça branca. A pia olhou para mim... me ajeitei como deu. Um fedor desgraçado, e alguns ruídos tomaram conta do banheiro. Suspirei aliviado. A pia quase cheia. Que merda!, pensei. Abri a torneira. Algumas gotas apenas... a mãe bate à porta e avisa:
- O pedreiro está consertando o banheiro, talvez não tenha água na pia...
Filha-da-puta! Agora que ela me avisa... o pânico toma conta de mim... com as gotas que caíam da torneira e um tufo de papel tento me limpar. A mãe, e a filha, batem à porta.
- Tudo bem?!?
Claro que não, pergunta imbecil. Mas não respondi. A raiva só não era maior do que o constrangimento. Me ajeito na pia, tento me limpar novamente. As mãos tremem e me sujo ainda mais. A situação está ficando fora de controle. Elas batem novamente à porta.
- Você está bem? Quer ajuda?
Se quero ajuda? Claro, uma máquina de teletransporte. Só penso em fugir dali, sem ter que passar pela sala. Olho esparançoso para o basculante. Não cabe, não dá para fugir. Tento o vaso. Não percebo que está solto. Cai e quebra. A água do cano começa a jorrar. Tento futilmente tapar com a mão. Corro até a pia, ainda tento me limpar. Me desequilibro no chão molhado e a pia cai. Merda por todos os lados. Agora são dois canos jorrando. Elas batem mais forte à porta.
- Aconteceu alguma coisa? Você está bem?!?
O desespero aumenta. A água e a merda se misturam no chão. Começa a subir. Molho os pés. Piso em alguma coisa mole... aarrrgh!!! Tento subir a calça, mas o zíper trava na cueca. Era só o que me faltava. Vejo que começa a vasar por debaixo da porta o líquido marrom. Elas gritam do lado de fora.
- Abra a porta!
Desespero. Só penso em fugir dali. Abro e saio correndo nu, empunhando a calça, as mãos sujas de merda e os pés molhados. Um dilúvio me acompanha a caminho da saída.
- Eu sou maluco, eu sou maluco!!!... grito em rota de fuga.
Mudei de escola. Mudei de cidade. Nunca mais a vi. Uff!
PS: aos amigos...