domingo, abril 22, 2007

Monólogos intercalados


Se conheceram na festa da vizinha. Ele chegando, ela saindo. Trocaram telefones, ele ligou dois dias depois. Ela meio-fina, ele meio-grosso. O diálogo, monólogos intercalados:

- Estou descobrindo a cozinha oriental, seus aromas picantes. E adoro sushi da Califórnia.
- Também gosto de japonês, mas nunca tem farinha nem ketchup.


- Li outro dia na manicure que na Itália eles não usam colher para comer espaguete, apenas o garfo.
- Por isso que eu corto o meu com faca, e meto ketchup.


- E eu sempre fui dengosa para comer. Quando criança mamãe brincava de trenzinho com a colher cheia de papinha.
- Meu velho nunca me forçou a comer. Um dia ele explicou à mesa: ou goela abaixo ou cu acima, esta porra vai parar no estômago.


- Adorei as cervejas belgas aromatizadas, aqueles suaves toques de frutas vermelhas.
- Não tinha nenhuma amargosa. Queria uma lapada de pau-de-nêgo.


- E meu pai me dava todos os animais que eu pedisse. Ganhei uma cracatoa no aniversário de 10 anos.
- Eu tinha um pato de borracha na banheira, furado de um lado.


- Na escola eu ganhava todas as gincanas. Um dia eu fui até para a Disney.
- Na oitava série tinha um concurso de caretas. Dois inscritos. Tirei o segundo lugar. Duas semanas no Piauí. O primeiro prêmio era apenas uma.


- Meu pai adora os cubanos.
- Prefiro os bahianos. Conhece manga-rosa?


- Já experimentou foie gras? Mamãe trouxe uma lata de Paris.
- Tem uma buchada de bode ali na feira que é um arraso. E tem farinha até de Nazaré.