Se conheceram na festa da vizinha. Ele chegando, ela saindo. Trocaram telefones, ele ligou dois dias depois. Ela meio-fina, ele meio-grosso. O diálogo, monólogos intercalados:
- Estou descobrindo a cozinha oriental, seus aromas picantes. E adoro sushi da Califórnia.
- Também gosto de japonês, mas nunca tem farinha nem ketchup.
- Por isso que eu corto o meu com faca, e meto ketchup.
- E eu sempre fui dengosa para comer. Quando criança mamãe brincava de trenzinho com a colher cheia de papinha.
- Meu velho nunca me forçou a comer. Um dia ele explicou à mesa: ou goela abaixo ou cu acima, esta porra vai parar no estômago.
- Adorei as cervejas belgas aromatizadas, aqueles suaves toques de frutas vermelhas.
- Não tinha nenhuma amargosa. Queria uma lapada de pau-de-nêgo.
- E meu pai me dava todos os animais que eu pedisse. Ganhei uma cracatoa no aniversário de 10 anos.
- Eu tinha um pato de borracha na banheira, furado de um lado.
- Na escola eu ganhava todas as gincanas. Um dia eu fui até para a Disney.
- Na oitava série tinha um concurso de caretas. Dois inscritos. Tirei o segundo lugar. Duas semanas no Piauí. O primeiro prêmio era apenas uma.
- Meu pai adora os cubanos.
- Prefiro os bahianos. Conhece manga-rosa?
- Já experimentou foie gras? Mamãe trouxe uma lata de Paris.
- Tem uma buchada de bode ali na feira que é um arraso. E tem farinha até de Nazaré.