sábado, abril 14, 2007

Efêmero

A porta pantográfica se fechou atrás de mim. Coisa de prédios antigos do centro que as conservam junto com seus ascensoristas igualmente seculares. Virei-me e nossos olhos se cruzaram. Os tinha brilhantes, mas um pouco tristes. Dor antiga já cicatrizada, arrisquei. Continuava a fitá-la, cada vez mais confortável com seu olhar. Ela correspondia. Aos poucos íamos nos apaixonando sem trocar palavras. Um suspiro, uma leve coceira na testa, o suor escorrendo pelas costas, o sorriso contido, olhares cúmplices. Pensei em estender a mão, dizer o nome, pedir-lhe o telefone. Mas o ascensorista nos findou a ilusão. Anunciava o térreo. Todos saíram. Desci mais um andar até a garagem.

Segui sozinho.