Numa mão o Drambuie com gelo, na outra o que restava de um Montecristo. As baforadas se confundiam com os sons daquele pub inglês. Falava de porres, porres ritualísticos. As proparoxítonas sempre chamam a atenção, é fato. Mas os porres que conhecia nesta categoria eram os homéricos, iniguláveis, únicos, catastróficos e mais alguns outros. Era a primeira vez que me expunha a um tal porre ritualístico. Enquanto segurava meu Porto e o meu Montecristo, afinava o ouvido. Ele continuava, entre soluços embriagados:
O negócio é o seguinte, porre ritualístico é aquele estágio da bebedeira quando você faz uma catarse grupal. Manda tirar as crianças de perto. Bota todo no mundo no recinto, tranca a porta e ninguém sai enquanto sobrar algo a ser dito. Certos índios, quando existe alguém atravancando a tribo, criando celeuma, tomam um porre ritualístico e dão um sumiço no cara. No dia seguinte ninguém pergunta nada, uns já nem se lembram e a vida continua.
Fiquei sem saber em que porre me meter. Na dúvida pedi o copo de Drambuie emprestado e o isqueiro da vizinha gorda. Depois de alguns goles a fumaça começava a fazer sentido.