quarta-feira, março 07, 2007

No contra-fluxo da pororoca



O amigo e colega de apartamento chegou em casa excitado por descrever sua primeira viagem de trabalho por aquela renomada empresa americana de consultoria.

- Pois é Zerundis, passei a vida inteira como estudante. Tu não imaginas o constrangimento que era toda vez que chegava no hall do hotel e me deparava com aquele cartãozinho de check-in. Logo ali no meio, o campo, “profissão”, e apesar dos quase trinta tinha que escrever: estudante. Ontem me vinguei, lasquei lá com letras quase viris: Consultor, com C maiúsculo mesmo.

Mas como dizia o profético Zé Simão, tucanaram o negócio. Já não há mais garis, somente consultores de limpeza pública; nem tampouco limpadores de fossa, mas consultores de higiene domiciliar; vendedor de côco na praia já era, são consultores de hidratação agora; telefonistas ou operadoras de telemarketing então, nem pensar. Quando ligamos para um daqueles malfadados “0800” esperamos para ser atendidos com aquela musiquinha de ante-sala de ginecologista e a gravação padrão: “todas as nossas consultoras no momento estão atendendo outros clientes. Assim que terminarem de estar resolvendo as questões deles estaremos falando com você. E não vão desligando porque a sua ligação está sendo muito importante para nós.” E viva o gerundismo…

Sigo no contrafluxo da pororoca. Quando vem a minha vez de preencher o tal cartão não me arrisco mais a ser confundido, lasco lá: estudante. É mais seguro.