segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Mensagem de um náufrago



A nau capitã ali encalhou,
no teu recife.

Icei as velas, chamei o vento, fiz promessa à Iemanjá, clamei por sereias, magos e outros deuses. Em vão. Singrara os mares em outros tempos, mas dali a âncora recusava a mover-se, presa ao fundo do leito,
teu leito.

Cansado das viagens, das batalhas que enfrentara, o coração com suas feridas, algumas cicatrizes, algumas ainda abertas, buscava colo,
teu colo.

Dei-me por vencido, me rendi, caminhei até você, coloquei-me junto às pegadas,
tuas pegadas.

Busquei descansar, resignado, atraído pelo canto,
teu canto.

Procurei energia, bebi do mel, alimentei-me da carne,
tua carne.

Um dia o vento soprou mais forte, as velas rasgaram, a âncora se soltou, parti. Na boca guardava o gosto,
teu gosto.

Num último gesto lancei a garrafa, dentro dela um grito, para que ela te encontrasse e gritasse:

apenas meu corpo não está aí junto ao teu corpo.