segunda-feira, fevereiro 12, 2007
Cadê você?
Cheguei agora dos bares
Procuro em cada canto e não te encontro
Quero saber de ti
Com quem estiveste
O que bebeste
Que coisas comeste
Que cheiros experimentaste
Quero saber de ti
Tenho sede
Quero ouvir tua voz
Tocar tua pele
Quero ver tua alma
Quero finalmente morder teus lábios
E descobrir que gosto eles têm.
Mensagem de um náufrago
A nau capitã ali encalhou,
no teu
Icei as velas, chamei o vento, fiz promessa à Iemanjá, clamei por sereias, magos e outros deuses. Em vão. Singrara os mares em outros tempos, mas dali a âncora recusava a mover-se, presa ao fundo do leito,
teu leito.
Cansado das viagens, das batalhas que enfrentara, o coração com suas feridas, algumas cicatrizes, algumas ainda abertas, buscava colo,
teu
Dei-me por vencido, me rendi, caminhei até você, coloquei-me junto às pegadas,
tuas pegadas.
Busquei descansar, resignado, atraído pelo canto,
teu canto.
Procurei energia, bebi do mel, alimentei-me da carne,
tua carne.
Um dia o vento soprou mais forte, as velas rasgaram, a âncora se soltou, parti. Na boca guardava o gosto,
teu gosto.
Num último gesto lancei a garrafa, dentro dela um grito, para que ela te encontrasse e gritasse:
apenas meu corpo não está aí junto ao teu corpo.
Pensamentear
Ah tempo maldito,
por quê não corres mais rápido o teu destino?!?
Seca o leito do rio,
corres logo ao mar,
logo ali onde o Tejo desemboca.
Dali
Chame Gente
Ah! imagina só que loucura
Alegria, alegria é o estado
De Todos os Santos, encantos e Axé,
Do corredor da história,
Pelas vias, pelas veias, escorre o sangue e o vinho,
A pé ou de caminhão não pode faltar a fé,
Da Sé ao Campo-Grande somos os Filhos de Gandhi,
Por isso chame, chame,
Que a gente se completa enchendo de alegria
É um verdadeiro enxame,
Chame chame gente
Que a gente se completa enchendo de alegria
A praça e o poeta
Ah!...a praça e o poeta.
domingo, fevereiro 11, 2007
Pensamentear
A Rosa
Já posso sentir teu cheiro...
Finalmente, o teu cheiro....
Queria cheirá-lo todo de uma vez...
E guardá-lo só pra mim...
Queria uma rosa só minha...
E que de manhã ela brilhasse com o sol...
E que o sol secasse o orvalho...
E que bebesse da água que a terra dá...
E que fizesse sombra pra mim...
Uma graminha crescendo aos seus pés...
Quem sabe um dia teria coragem de pegar na sua mão...
E cresceria junto ao seu caule...
E finalmente beijaria suas petálas...
Um dia...
Um beijo.
Pensamentear
sábado, fevereiro 10, 2007
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Pensamentear
Tô chegando…
No princípio faltavam meses,
depois vieram o contar das semanas,
hoje já conto os dias,
em breve haverá apenas as horas
e os minutos que nos separam
Monólogo de Orfeu
Vinicius de Moraes
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala,
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!
PS: Ouvi isso há pouco, declamado, pela
Maria Bethânia num disco do Vinícius dos anos 70.
Coisa fina!