segunda-feira, outubro 02, 2006
Despedida
Corto os pulsos. Saltam as veias. Por um instante consigo perceber onde foram seccionadas pela låmina. Então, já não via, a não ser a vida que me escorria por ali. O chão começa a ficar molhado. Um fio de sangue alcança um dos dedos do pé. Sinto um calafrio. O corpo começa a amolecer. Procuro me ajeitar na cadeira - um fio de dignidade ou orgulho talvez. Os pensamentos se tornam confusos. Será o princípio irreversível do fim? Esta manhå quando acordei nåo pensava que a noite terminaria assim.Tudo terminara. Nunca pensei na morte, talvez pos isto meus pensamentos se assombravam de si mesmo. Já nåo pensava no futuro, projeções, conjunturas, cenários, nåo mais. Revivia o passado, a uma velocidade incomensurável. Minha mente insistia em exibir este filme mais uma vez. Sarcástica, ela passava o filme a seu modo próprio. Começara do início, tenra idade. Escolhia crieteriosamente em quais passagens se deter por uns momentos a mais. Confuso no início, logo entendi sua lógica: escolhera os momentos mais felizes da minha vida. Suspirei aliviado longamente, talvez o meu último suspiro. Valera a pena ter vivido. Meus algozes, bem, eles venceram esta batalha. E meus olhos se fecharam para este mundo.